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Esperança é algo que já não tenho mais. Voou do varal numa noite qualquer. O mesmo varal onde pendurei minha
fé. Voou também. Nem vi.
Venta muito por aqui. Nada fica firme por muito tempo. As roupas não secam, somem. Voam sei lá pra onde. Já não sei o que vestir quando me convidam. Por isso nunca aceito.Fico em casa com satisfação
. Vou até o quintal e aproveito o tempo para estender as fotos, passados, sonhos. Tudo no
mesmo varal. Só pra tirar o mofo, tomar um ar. Mas
sempre voam. Voam sei lá pra onde. E eu vou perdendo as peças da
minha história.
Uma por uma. Tudo que eu
amo desaparece. Do quintal da minha casa nem dá pra ver o seu. Mas imagino que lá no fundo, num cantinho, também tenha um varal. O
seu varal. Onde
não venta. E devem estar pendurados:
meu sorriso, minhas certezas, minha fé.
Quem sabe um dia bate um vento e, de tão forte,
te faça trazer de volta o que sempre foi meu. E falta. No meu quintal.
O tempo voa enquanto espero. Estendo a vida num varal.
Esperança já não há. Voou sei lá pra onde.
Nada fica firme por muito tempo.
E venta muito por aqui..."
[Maíra Viana]