quarta-feira, 4 de março de 2009

Lamento pelas cuecas que nunca usei


Lamento pelas cuecas que nunca usei

E pelas pessoas que eu poderia ter sido e não fui.

Lamento pelos espelhos quebrados,

Pelos lábios sempre sem cor

E pelo patinho feio que nunca se verá cisne.

Lamento pela Copa de 98,

Pelo triste fim de Policarpo Quaresma

E pelas minhas dores de cabeça quase que diárias.

Lamento por passar o sal ao invés do açucar

E por Van Gogh ter morrido na miséria

Enquanto suas obras hoje valem milhões.

Lamento pela falta de chuva,

Pela falta de verba

E pela falta de luz.

Lamento pelas unhas roídas,

Pelo amor engarrafado

E pelas palavras ferozmente retidas no céu da boca.


[maíra viana]