terça-feira, 3 de março de 2009


— Eu quero me matar.(silêncio)
—Eu estou apaixonada.
— Você quer se matar porque está apaixonada?
— Acho que sim.
— Mas você só tem dezesseis anos.
— E o que que tem? Não sei quem foi que disse que a gente devia sematar na adolescência, quando as coisas ainda são bonitas.
— As coisas não são bonitas?
— Não. Odeio cada pedra desta cidade. Cada porta. Cada casa. Cadacara que passa por mim na rua. Odeio, odeio. Mas não se mate.(silêncio)
— Por favor.
— Por favor o quê?
— Não se mate.
— Ah, esquece. O sol está indo embora. Só falta um terço dele.
— Ninguém se mata por amor.
— Agora só tem uma lasquinha dele, bem vermelha.
— Olha, uma vez eu li um cara, um escritor chamado Cesare Pavese, que dizia assim: “Ninguém se suicida por amor. Suicida-se porque o amor, não importa qual seja, os revela na nossa nudez, na nossa miséria, no nosso estado desarmado, no nossonada.”
— E o que aconteceu com ele, esse tal Cesare?— Se matou.(silêncio)